Ah, o sabor agridoce do retorno! Imagina só: aquele momento em que o avião rasga as nuvens, revelando o solo da tua cidade, ou quando o carro desenha a última curva e a paisagem familiar brota no horizonte. Esperas ser envolvido numa onda de nostalgia, mas o que acontece se, ao invés, sentires um estranhamento quase tangível?
Casa? Mas que casa?
Voltar pode ser, paradoxalmente, uma odisséia mais complexa do que partir. Ao nos lançarmos ao mundo, vestimo-nos de coragem e de uma curiosidade insaciável, ansiosos por cada nova experiência, cada sabor desconhecido, cada amizade imprevista. Mas, ao voltar? Anseiamos pelo mesmo calor, pelo aroma familiar do café da manhã, pelas risadas que se perdiam no tempo. E, no entanto, as coisas não são como esperávamos.
O Estranhamento do Familiar
Voltar é, em essência, redescobrir. As ruas que encolheram na tua ausência, os prédios que trocaram de cor, os amigos que seguiram caminhos diferentes. E nós? Mudamos. É como se nossa essência tivesse sido recalibrada, e agora, a frequência de origem já não nos completa. Esse desconforto, esse luto silencioso por não se encaixar onde se supunha pertencer, carrega um peso que só quem vive entende.
Mas a mudança não reside apenas no espaço. Somos nós que evoluímos. As aventuras lá fora nos reformam, alargam nosso horizonte, reformulam nossos valores. E então, ao retornar, enfrentamos o paradoxo do regresso: o local permanece, mas quem volta é uma versão nova de si mesmo.
A Síndrome do Retorno
Esse sentimento de deslocamento, esse luto pelo que era e já não é, é conhecido como a Síndrome do Retorno. É a estranheza de se sentir alienígena no próprio lar, a luta para reconectar-se com o que antes era íntimo. E não se trata apenas de espaço, mas também das pessoas, dos ritmos, dos sons e dos gostos.
Para quem regressa definitivamente, o desafio é ainda maior. Há o doloroso processo de se despedir de uma cultura que, de alguma forma, também se tornou lar. Amar o diferente e depois ter de abandoná-lo é uma despedida para a qual nunca estamos preparados.
E Agora?
Como, então, navegamos por esse mar de emoções contraditórias? A chave pode estar na viagem em si. Da mesma forma que nos adaptamos a terras estranhas, podemos reaprender a encontrar amor no nosso canto do mundo, a descobrir a beleza no que nos é familiar, a tecer novas memórias em paisagens antigas.
A viagem de retorno é, em sua essência, uma jornada de reencontro — com os outros, com o ambiente, mas, acima de tudo, conosco. A “casa” que buscamos talvez seja um espaço interior, um estado de espírito construído a partir de cada experiência, cada adeus, cada retorno.
Portanto, sim, viajar é uma delícia, mas retornar… a “casa”? A verdadeira casa somos nós, em contínua evolução, numa eterna jornada em busca do lugar onde o coração encontra paz. E essa procura, caros leitores, é a mais extraordinária das aventuras.
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