Um dos aspectos mais ignorados pelas brasileiras e brasileiros que vão para o exterior é o emocional, este é o desafio invisível da vida no exterior. Sim, eu mesma, psicóloga, ignorei a importância do preparo psicológico para morar fora quando decidi fazer mestrado nos Estados Unidos. E isso, infelizmente, é natural, já que quando vamos morar no exterior (seja por um curto período ou para uma mudança a longo a prazo) focamos mais nossa atenção em aspectos práticos, como visto, passagens, trabalho, casa, transporte e dificilmente paramos para pensar ou nos preparar para os impactos emocionais que essa mudança gera. Através dos assuntos que abordamos na intercambiamente (plataforma de saúde mental) refletimos sobre muitos aspectos que podem mudar na vida de quem se aventura a pegar as malas e o passaporte e ir viver seus sonhos fora do país, e muitas formas diferentes que podemos adoecer em função disso.
A ideia não é estabelecer uma visão alarmista da vida no exterior, ou esgotar todos os possíveis impactos que viver fora tem em nossa saúde mental, mas chamar a atenção para alguns deles que surgem em nossa prática clínica com muita frequência, para que a gente possa nomeá-los, saber que são sentimentos comuns a vários imigrantes e através disso, possibilitar a criação de estratégias “nossas” de lidar com esses pensamentos, sentimentos e comportamentos, muitas vezes disfuncionais para nossa adaptação no exterior. Cuidando da nossa saúde emocional, aproveitamos melhor as nossas experiências pelo mundo antes e durante a estadia em um novo país.
Quando vamos para o exterior, muda o país, muda o ambiente, os costumes e a regra. O lugar em que vivemos impacta diretamente sob nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Sim, nessa ordem. Somos impactados pela cultura do país que moramos e consequentemente, mudamos. Às vezes, com muita dor envolvida no processo e começando a estranhar o estilo de vida brasileiro.
Também mudam as relações. Elas se tornam mais líquidas, voláteis e instáveis no exterior – ainda mais se você está vivendo o contexto do intercâmbio com data final, que é passageiro. Aquele amigo também brasileiro querido que você vê todo dia no curso de inglês pode ir embora na semana que vem, enquanto que aquela menina colombiana começou a fazer parte da rotina de vocês e rapidamente se torna uma amiga querida, estrangeira como você e que pode logo ir embora também. E você vai ter que aprender a lidar com essa rotatividade e inconstância de vínculos no curto e no longo prazo. Obviamente isso vai intensificar as suas reações emocionais a tudo que te acontece, já que uma rede de apoio estável (formada por amigos e/ou família) é muito importante para nosso equilíbrio emocional.
Sentir euforia, alegria, orgulho, medo, solidão, raiva, angústia, entre tantas outras sensações em um curto espaço de tempo de forma intensa e cíclica é esperado, especialmente nos primeiros meses de adaptação. Mas a longo prazo, sem saber como lidar, pode gerar sofrimento psíquico intenso nos migrantes brasileiros. A maneira de se expressar também muda, já que a língua e a forma de construir ideias mudou. No começo da vida em um novo país podemos ter dificuldades para argumentar sobre algo, como se nos faltassem palavras, deixando aquela sensação de “não era bem isso que eu quis dizer”. Com o tempo, isso nos frustra e começamos a evitar socializar porque estamos constrangidos demais para falar e não nos sentimentos “pertecentes”. Isso é natural até a gente se apropriar mais da língua e se sentir mais confortável com ela, mas pode se tornar mais uma fonte de sofrimento psíquico a longo prazo dependendo de como lidamos com isso.
Adiciona-se a isso a velocidade dos acontecimentos: mudar de casa, emprego, rotina de estudo, muda o que comemos e muda o corpo também muito rápido, e obviamente isso pode gerar muita ansiedade. Sim, é muita mudança, de alta intensidade, em um curto espaço de tempo. É em contextos como esse que, sem preparo, rapidamente podemos entrar em sofrimento. Por exemplo, muitas pessoas passam pelo homesickness logo após seus primeiros meses no exterior ou depois de alguns anos.
Homesickness é a experiência, ao estar em outro país de sintomas relacionados a um sentimento profundo de solidão. A vida em outro país passa a ser vista como desagradável, e gerar sofrimento intenso já que não existe mais conexão com o propósito por trás da viagem, seu dia-a-dia neste novo lugar, as pessoas ao seu redor agora, a cultura do país que ela está, entre outros. Isso pode gerar uma visão do passado no Brasil como infinitamente melhor, gerando uma saudade intensa que perdura por semanas e até mesmo meses. Dessa forma, sentimos uma falta de sentido para vida no exterior, que o país de agora nos torna infeliz e voltar ao Brasil vai magicamente melhorar nossa vida.
A longo prazo, o homesickness pode se transformar em uma depressão leve, moderada ou até mesmo grave. Ainda mais quando associava a invernos rigorosos. Como podemos ver, facilmente podemos adoecer dependendo do contexto que estamos e como lidamos com ele, além é claro de nosso histórico e questões pessoais de saúde mental. E todos nós podemos viver isso. Portanto, entendemos que o preparo emocional é muito importante para uma transição saudável da sua vida no Brasil para uma vida nova em outro país e a manutenção da sua saúde mental durante.
Assim como temos dias difíceis quando moramos em nosso país, podemos ter no exterior. Morar fora não é receita da felicidade diária. Tem custos que dependendo do que é importante pra você, podem pesar demais. É necessário encontrar equilíbrio entre o que sentimos, o que desejamos, e o que fazemos dentro das possibilidades do contexto que estamos. A montanha russa de sentimentos faz parte de ser viajante, mas será muito mais divertida se for feita com segurança – que pode ser conquistada com auto-conhecimento, planejamento e uma calibrada nessas expectativas. Obviamente, consumir conteúdo sobre saúde emocional ou até mesmo fazer terapia são excelentes ferramentas para colocar isso em prática.
Mas caso neste momento você queira orientações mais específicas, temos algumas sugestões para você começar a trabalhar seu psicológico ao ir morar fora ou até mesmo enquanto está no exterior. Vamos começar pelas questões existenciais que acompanham imigrantes, se perguntando: “O que você está deixando para trás, o que você leva com você e quem você quer que ser no seu novo país?” Responda essas perguntas primeiro. Depois, construa seu propósito de viagem ou sentido para sua atual vida em um novo país.
TENHA PROPÓSITO
Viver no exterior é como qualquer mudança significativa de vida – necessita ter um objetivo e um motivo que o sustente. O que você quer conquistar ou viver em seu intercâmbio? O que te faz/fez querer se mudar para outro país? Coloque em papel esses objetivos e motivações. Faça uma linha do tempo para te ajudar na hora de determinar seus próximos passos. Desta forma, você verá se está dedicando seu tempo ao que é realmente importante para você.
MAPEIE SUAS EMOÇÕES
Separe tempo para preparativos práticos, como fazer um bom plano para sua vida em um novo país, mas também para lidar com suas emoções, para dizer até logo para pessoas queridas, para se conhecer e entender seus sentimentos sobre ser migrante. Estrutura e rotina ajudam você a não esquecer o essencial. Permita-se um momento para ver como você está neste período agitado pré ou pós mudança de país. Anote, faça videos, mande áudios para amigos de confiança e troque figurinhas sobre. Nomeie seus sentimentos – desde o que você pensa equanto sente até as reações corporais. Isso de da luz ao que está confuso e ideias de como processá-los.
NÃO IGNORE MEDOS OU TRISTEZA
É natural ter sentimentos conflituosos quando chega perto da hora de viajar ou enquanto estamos vivendo no exterior sobre ser migrante. Podemos estar super felizes com o que nos aguarda no novo país, mas tristes pelas pessoas e pela vida que estamos deixando para trás, mesmo que seja temporário. Escute isso! Fale sobre com pessoas de confiança. Ao abordar suas dúvidas, você pode encontrar maneiras de impedir que elas se tornem realidade. E você perceberá o que precisa resolver, e quem pode te ajudar antes de chegar no novo país e se frustrar por lá.
SE LEMBRE QUE VOCÊ NÃO ESTÁ SÓ
Você não está sozinho! Aceite a ajuda de amigos para fazer as malas ou falar sobre seus medos. Acostume a pedir apoio. Algo que também vai acontecer em seu novo país. Aceitar ajuda é a maneira mais fácil de fazer novos amigos. Ajudar também. Naturalize seus momentos de vulnerabilidade e se abra para pessoas. Quando estiver fazendo seu intercâmbio você vai conhecer muitas pessoas que compartilham dos mesmos sentimentos que os seus, mesmos medos, mesmas angústias. Dificilmente é só com você e lembrar disso nos traz paz!
CONSTRUA SUA RESILIÊNCIA
Resiliência é capacidade humana de se recuperar de dificuldades, lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, lidar com momentos difíceis, como estresse ou algum tipo de trauma. Ela é aprendida!
Não tenha medo de buscar apoio profissional se for necessário. Se tiver interesse em saber mais sobre a terapia online da Intercambiamente, fique à vontade para perguntar.
Entender os fatores que impactam na vida de quem vive no exterior são fundamentais para prestar serviços de qualidade aos brasileiros pelo mundo. Principalmente, alcançar o bem-estar emocional durante essa experiência. Cuidar da saúde mental é fundamental. Por isso, nossa equipe é formada por profissionais qualificadas, com consistente formação em Psicologia e vivência no exterior. A terapia pode te ajudar a criar uma vida significativa no exterior, enquanto se aceita a dor que inevitavelmente a acompanha.
A terapia online da Intercambiamente apoia brasileiros e brasileiras no exterior. No preparo para a viagem e também no durante a vida no exterior. Para questões que possam surgir, não apenas vinculadas com a adaptação no exterior. A vantagem é ser em português e com uma profissional que você se identifique, sem fronteiras, trazendo mais familiaridade e menos barreiras culturais. Marque uma sessão.
E não se esqueça que: “Olhar para você mesma/o é um ato de coragem”
Um abraço da Psi Mirela Cardinal
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