Terapia Online para Brasileiros no Exterior

A saudade de quem permanece: quando decidimos ficar e vemos as pessoas que amamos irem embora

Morando em outro país tudo muda o tempo todo, não é mesmo? Inclusive as pessoas. Elas chegam e se vão constantemente. É comum, ao viver um longo período na mesma cidade, formar uma rede afetiva de pessoas como a gente: migrantes. Com o passar do tempo cada uma pode seguir seu caminho enquanto nós ficamos — com saudade e novos espaços. É sobre esse tipo de saudade que queremos falar aqui. Ela é diferente daquela que sentimos quando somos nós que vamos embora e tudo muda com a gente (a cidade, a rotina etc.).

 

Enquanto escrevo, uma das melhores amigas que fiz em Barcelona está indo embora. A conheci ainda antes de chegar, em um grupo de brasileiros em Barcelona no Facebook, a partir do comentário em um post sobre psicólogas e dúvidas relacionadas. Ela tem me acompanhado em todos os momentos dessa jornada e não esperava que não fosse mais estar aqui. Me sinto triste, insegura, impotente e desanimada. Um pedacinho meu também se vai com ela. Não é a primeira pessoa importante a se mudar e, com certeza, não será a última.

 

Então, como seguir a vida com todos esses sentimentos e pensamentos que surgem diante de partidas?

 

Esse tema é tão importante porque escuto esse tipo de relato pelas pessoas que acompanho em terapia. Escuto sobre as boas relações que elas constroem com tanta intimidade e proximidade e se tornam família, principalmente, quando se compartilha uma realidade parecida. Pessoas com as quais dividimos o mesmo teto, compartilhamos o ambiente de trabalho ou o curso, vivemos o dia-a-dia juntas ou que encontramos poucas vezes em viagens ou em atividades. Por muito tempo ou pouco tempo de convívio, a proximidade consegue ser intensa e profunda.

 

Uma coisa é certa: vamos aprendendo ainda mais a nos conectar de diversas formas e a criar diferentes relações, não é mesmo? Sabemos que, no fundo, tudo muda e que a vida não é controlável. Ela acontece independente do nosso querer. Mas o preço de ficar pode trazer esse sentimento de impermanência e acabar levando a um medo de se relacionar: “a sensação de que as pessoas estão sempre em movimento e eu não deveria me apegar”. Pensamentos como este te visitam com frequência? Nós te entendemos. Lidar com essas emoções e esses sentimentos é um desafio constante na vida de migrantes, porque encontramos razões compreensíveis para querer nos proteger e nos resguardar. No entanto, isso não impede que doa e que possa gerar mais sofrimento e trazer prejuízos.

 

Como você tem lidado com as perdas? Como você tem encerrado ciclos? Sabemos também que as amizades podem permanecer nas nossas vidas, estando presentes fisicamente ou não. Cruzamos com essas pessoas de novo ou mantemos o contato. O vínculo pode seguir sendo nutrido de alguma maneira. Outras vezes não, por vários motivos. 

 

 

 

As pessoas se vão mas, o que fica?

 

A saudade é uma dessas coisas que fica. É o maior indicativo de que o que vivemos foi valioso. Dói porque foi bom. Dói porque esta pessoa importa. A dor e o amor juntas. As sensações agradáveis de mão dadas com as sensações desagradáveis. Isso significa que, se evitamos entrar em contacto com os desconfortos da vida, evitaremos também, o contato com tudo aquilo que pode torná-la significativa. Um esforço focado em eliminar tudo o que dói acaba eliminando a vida, não a dor. Podemos “perder” pessoas, mas se deixarmos de nos relacionar vamos perder muito mais. Por quais dores vale a pena atravessar?

 

Aceitar os nossos afetos, acolher o que a gente sente também faz parte. Tudo bem passar por momentos de cansaço e de recolhimento. Podemos nos dar o tempo e espaço necessário para tratar nossas feridas. Existem fases que eu me fecho um pouco mais para me nutrir, me recompor e recuperar o fôlego para seguir. Que necessidade sua você precisa atender nesse momento? Como você pode se cuidar de uma maneira mais compassiva e amorosa? 

 

Assim como as pessoas chegam e se vão, nossas emoções também. Nada é permanente. Aceitar esse fluxo e essas oscilações torna a vida no exterior mais possível e suportável. Nesse embalo: “Saudade até que é bom, melhor que caminhar vazio”, nos canta lindamente Caetano. Quando permanecer é aprender a deixar ir, os ciclos se encerram e a saudade faz parte da vida. 

 

Mas, além da saudade, o que mais permanece com a gente?

 

Permanecem as memórias que compartilhamos e a pessoa que nos tornamos durante esse convívio. Nada tira da gente o que vivemos. O carinho e as experiências não vão a lugar nenhum. Eles ficam. Nos tornamos pessoas melhores a cada encontro, pessoas com bagagens feitas de histórias. Impossível não lembrar que:

“vou mostrando como sou e

vou sendo como posso

jogando meu corpo no mundo

andando por todos os cantos

e pela lei natural dos encontros

eu deixo e recebo um tanto

e passo aos olhos nus

ou vestidos de lunetas

passado, presente

participo sendo o mistério do planeta”.

Obrigada Novos Baianos por essa poesia em música! 

 

E, por falar em presente, como você se observa caminhando nessa jornada migrante? Você percebe uma intensidade nas relações que tem? Muitas vezes é por saber que temos um tempo determinado (uma viagem, um intercâmbio…) que nos jogamos mais e nos arriscamos mais. Abrimos espaço para viver o que se apresenta, da forma que se apresenta. Colocamos nossa energia, nossa ação e nosso desejo. Em realidade, esse tipo de entrega acontece toda a vez que a gente vive plenamente o momento presente. Esse é um dos aprendizados mais importante que podemos ter: estar com os dois pezinhos no aqui e agora. Já que o bem mais precioso que a gente pode dar para alguém é o nosso tempo – seja ele curto ou longo. 

 

É claro que podemos decidir COMO queremos nos relacionar, os TIPOS de relações que queremos cultivar, se preferimos nos aproximar MAIS das pessoas que pretendem se estabelecer na cidade ou não etc. O fato é que nosso coração não vai estar mais em um lugar só. Parte do nosso coração vai estar sempre em outro lugar e com outro alguém. A gente se parte junto com as partidas (não pude evitar esse jogo de palavras). Esse é o preço que você paga por ter vivido momentos felizes e ter se conectado genuinamente com pessoas pelo caminho ao morar no exterior e na sua vida no Brasil. 

 

Um gentil lembrete: “No final, são três coisas que mais importam: como vivemos, como amamos e como aprendemos a deixar ir” Jack Kornfield 

 

 

Um abraço da Luiza Sbrissa, psicoterapeuta na Espanha 

 

 

A terapia online da Intercambiamente apoia brasileiros e brasileiras no exterior. A terapia pode te ajudar a criar uma vida significativa no exterior, enquanto se aceita a dor que inevitavelmente a acompanha. Marque uma sessão.

 

 

 

 

Quem escreve:

 

Luiza Sbrissa é Psicoterapeuta especializanda em Terapia de Aceitação e Compromisso e Mindfulness, e se dedica a ajudar brasileiros/as e hispanohablantes que vivem no exterior a melhorar sua saúde mental e bem-estar. Com formação em Psicologia e Mestrado pela Universidade Federal de Santa Maria no Brasil, Luiza tem experiência em pesquisa na Espanha em temas como Psicologia Social, migrações e estudos feministas, o que traz uma perspectiva interdisciplinar e multicultural para o seu trabalho como Psicoterapeuta. Ela oferece suporte online a pessoas em todo o mundo, ajudando-os a desenvolver habilidades para lidar com emoções difíceis e construir uma vida mais plena e satisfatória. Seu objetivo é fornecer um espaço seguro e acolhedor para que a pessoa possa explorar seus pensamentos e sentimentos, descobrir seus valores e aprender a agir de acordo com eles.

 

 

 

 

 

 

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