Muito típico da vida no exterior, né? Talvez isso já tenha passado pela sua mente. Senão esta, outras contradições, conflitos e opostos. Convivendo. Uma mistura.
Porque emoções e sentimentos não são tudo ou nada, eles podem coexistir dentro de nós.
Muitas vezes nos limitamos por crenças de que as emoção ou os sentimentos só serão autênticos se foram vivenciados sem interferências de “opostos”.
Mas somos seres complexos. Sentir tudo isso e tudo isso junto nem sempre significa confusão. Podemos, inclusive, conviver com essas emoções em harmonia.
Sobre sentir uma coisa E outra
Meses atrás, quando recebi a notícia que a minha cachorrinha faleceu inesperadamente, experimentei sentimentos aparentemente contraditórios que, em realidade, fazem parte da minha vida de imigrante. Não sei qual o lugar que esses serzinhos tem na sua vida, mas tinha um bem importante na minha. Mas não é exatamente sobre isso que quero falar.
É sobre a sensação de culpa que eu senti. Culpa por estar longe, por desassistir meus amados e minhas amadas. Um certo egoísmo, por estar feliz aqui e eles lá, uma sensação de um tipo de abandono. Que sinto que não é só minha, mas compartilhada por quem mora fora do seu território de origem. Você alguma vez já se sentiu assim?
Desde que eu cheguei em Barcelona percebi que sentimentos e emoções contraditórios passaram a morar em mim. E um não supera o outro. É uma coisa E a outra também.
Talvez com o tempo algumas coisas ficam mais fáceis. Mas acho que é algo que nos acompanha mesmo.
Porque a gente aprendeu que é feliz OU triste. Que se vamos embora é porque não há muitos motivos suficiente para ficar. É uma coisa OU outra.
“Ué se estou me sentindo culpada e triste por estar longe da minha família, então não sou tão feliz aqui quanto eu pensava que fosse, né?”. Nem sempre.Emoções e sentimentos por mais contraditórios e conflitantes que possam parecer, podem existir ao mesmo tempo.

Podemos ser gratas e ainda assim querer que as coisas fossem diferentes
Podemos sentir uma saudade imensa e ainda assim querer fazer nossa vida longe fisicamente
Sermos capazes e ainda assim necessitar apoio
Chorar e ainda assim encontrar alguma alegria
Viver os “opostos”
Eu escolho seguir com bons motivos para ter ficado, eu sigo sem saber se meus planos mirabolantes vão mesmo acontecer, eu sigo saciando meu apetite aventureiro e sigo com um aperto no peito. A gente ganha para perder, a gente perde para ganhar.
Eu sigo escolhendo até este momento. Apesar de nem sempre poder escolher, exatamente, o que eu vou perder, e o que eu vou ganhar especificamente. Coisas inesperadas maravilhosamente têm acontecido, enquanto outras tristemente tem me atravessado.
Eu sigo sentindo tudo isso. Isso faz eu revisitar minhas escolhas constantemente, faz eu avaliar e sentir o presente por inteiro. Não teve um dia que eu não pensei na minha família, amigos ou amigas. Mas também não teve um dia que eu quisesse voltar. O que não significa que eu não quisesse estar lá com eles. Forças em constante movimento e intensidades, que não se anulam.
Se eu pudesse eu colocaria todos em uma mala – minha versão de potinho – para compartilhar essa vida desde aqui. Mas aí eu não sentiria o frio na barriga que me inquieta e me excita.
A gente segue ainda que nosso coração não esteja – e talvez nunca vai estar – de todo preparado.
Você pode ser ou sentir uma coisa e ainda assim querer, necessitar ou ser outra.
Quando mais você se permitir ter todas as suas verdades, sentir todas as suas emoções, mais você se sentirá inteira, podendo experimentar uma sensação de conexão, harmonia e autenticidade consigo mesma e com o mundo.
Que duas verdades aparentemente opostas você pode dar espaço na sua vida?
Se você se identificou com os assuntos abordados neste texto e gostaria de aprofundar-se no autoconhecimento através da psicoterapia online, entre em contato com uma de nossas psicólogas clicando aqui, marque uma sessão ou tire suas dúvidas sobre a psicoterapia online.
Quem escreve:
Luiza Sbrissa é Psicoterapeuta especializanda em Terapia de Aceitação e Compromisso e Mindfulness, e se dedica a ajudar brasileiros/as e hispanohablantes que vivem no exterior a melhorar sua saúde mental e bem-estar. Com formação em Psicologia e Mestrado pela Universidade Federal de Santa Maria no Brasil, Luiza tem experiência em pesquisa na Espanha em temas como Psicologia Social, migrações e estudos feministas, o que traz uma perspectiva interdisciplinar e multicultural para o seu trabalho como Psicoterapeuta. Ela oferece suporte online a pessoas em todo o mundo, ajudando-os a desenvolver habilidades para lidar com emoções difíceis e construir uma vida mais plena e satisfatória. Seu objetivo é fornecer um espaço seguro e acolhedor para que a pessoa possa explorar seus pensamentos e sentimentos, descobrir seus valores e aprender a agir de acordo com eles.
Acompanhe conteúdos sobre saúde mental e vida no exterior nas nossas redes: