Este texto é dirigido a você que está buscando um atendimento psicológico ou já está em um. Para que você entenda no que consiste um trabalho ÉTICO em Psicologia, e assim você possa avaliar o trabalho da/o psicóloga/o que você vai investir ou avaliar o atendimento que você está recebendo. Infelizmente, é comum pessoas LGBTQIA+ passarem por mais de um/a psi por se sentirem julgadas e por não terem um espaço livre e seguro para que se expressem. Cabe a nós esclarecermos algumas coisinhas sobre nossa prática, segue comigo!
Brasil é o país que mais mata LGBTQIA+ no mundo – pelo quarto ano consecutivo! Experimentar uma realidade diferente, pode ser a motivação para viver uma vida no exterior. As pessoas que chegam até nós relatam que é uma oportunidade de viver mais de acordo com quem se é, com mais segurança física e emocional. “Me sinto livre”, “não me sinto olhada e julgada”, “sinto que a minha vida está menos ameaçada”. Qual é a sua experiência?
Ainda assim sabemos que se trata de uma violência estrutural e coletiva – é sobre esse mundão!
Foi só em 1990, há 32 anos, que a “homossexualidade” foi retirada da lista de doenças pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 1999, o Conselho Federal de Psicologia proibiu psis de tratarem como doença. E, a partir de 2018, a transexualidade deixou de ser classificada como transtorno mental pela OMS. Por que eu estou trazendo esses dados? Para gente perceber o quão recente e que, infelizmente, alguns psis insistem em práticas curativas absurdas e discriminatórias.
1. O que uma psicóloga deveria fazer por você:
É da responsabilidade das Psicólogas:
- que você não sofra violências reproduzidas nos atendimentos psicológicos;
- construir junto com você um vínculo seguro, autêntico e humano. Para que você seja respeitada/o por ser quem é;
- aplicar conceitos como “liberdade, dignidade, integridade” em ações que cuidem e protejam você, que atendam suas necessidades, que deem espaço para o que é valioso para você.
É assim que você, que quer iniciar um atendimento ou está em um, deveria se sentir: cuidada/o, amparada/o, visto/a e ouvida/o.
2. Não curamos aquilo que não é doença: você não vai ser curada, tratada ou revertida
Ainda vivemos em uma sociedade que foi estruturada por e para pessoas que são cis, hetero, magras e brancas etc. e quem foge do padrão sofre todo o tipo de violências. A solidão e o sentimento de inadequação é frequente para aquelas que “tem que” se quebrar para caber em expectativas. Passar pela mente que “tem algo de errado comigo” é um reflexo do isolamento e das rejeições vivenciadas.
Os sofrimentos psíquicos (depressão, ansiedade, risco de suicídio etc) podem ser impactos da discriminação na saúde mental das pessoas LGBTQIA+. Porque a discriminação pode afetar, em alguma medida, todas as áreas da vida (relações familiares, emprego, amizades etc.), inclusive, o relacionamento que tem consigo mesma/o. Como os sofrimentos podem também ser de diversas ordens, porque uma Psicologia ética considera uma pessoa em sua integralidade. A/O Psi, então, deve acompanhar você nos seus processos de vida com escuta, acolhimento e reconhecimento. De uma maneira que você experimente aceitação nessa relação.
3. Como você deve se sentir no atendimento psicológico
- Você deve ser apoiada/o na autodeterminação do seu corpo, da sua identidade e expressão de gênero, bem como ter a expressão da sua sexualidade protegida.
- A psicologia deve contribuir na compreensão das pessoas LBGTQIA+. Qualquer conceito ou técnica que reduza, estigmatize, determine ou universalize você ou as suas experiências deveria passar longe das sessões!
- A psi deve trazer para os atendimentos reflexões sobre o seu sofrimento psíquico contextualizando socialmente. Isto é, compreendê-lo a partir de território, raça, gênero, orientação sexual, geração, classe social etc. É todo esse emaranhado que dá forma à realidade de uma pessoa.
- A psi pode auxiliar a identificar as formas de resistência que pessoas LGBTQI+ criam e sustentam para viver uma vida com sentido próprio. Resistências que as fortalecem como seres humanos válidos e dignos.
E aí, o exposto aqui ajudou a entender um pouco mais sobre o que você pode esperar de um atendimento ético às pessoas LGBTQIA+?
Deixa o seu comentário pra gente saber se foi útil!
Um abraço afetuoso!
Luiza Sbrissa, psicoterapeuta intercambiamente na Espanha
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Referências:
- Nota Conselho Federal de Psicologia – “Orgulho e Diversidade”, 2021”: https://site.cfp.org.br/cfp-lanca-nota-tecnica-sobre-cuidado-a-populacao-lgbti/
- Relatório Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, 2022:
- https://observatoriomorteseviolenciaslgbtibrasil.org/dossie/mortes-lgbt-2020/
- Despatologizaçao Trans: https://despatologizacao.cfp.org.br/28-de-junho-dia-do-orgulho-lgbt/
Quem escreve:
Luiza Sbrissa é Psicoterapeuta especializanda em Terapia de Aceitação e Compromisso e Mindfulness, e se dedica a ajudar brasileiros/as e hispanohablantes que vivem no exterior a melhorar sua saúde mental e bem-estar. Com formação em Psicologia e Mestrado pela Universidade Federal de Santa Maria no Brasil, Luiza tem experiência em pesquisa na Espanha em temas como Psicologia Social, migrações e estudos feministas, o que traz uma perspectiva interdisciplinar e multicultural para o seu trabalho como Psicoterapeuta. Ela oferece suporte online a pessoas em todo o mundo, ajudando-os a desenvolver habilidades para lidar com emoções difíceis e construir uma vida mais plena e satisfatória. Seu objetivo é fornecer um espaço seguro e acolhedor para que a pessoa possa explorar seus pensamentos e sentimentos, descobrir seus valores e aprender a agir de acordo com eles.
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