Os relacionamentos interculturais são complexos e desafiadores, pois envolvem indivíduos com histórias de vida, experiências e crenças culturais distintas. Essas diferenças culturais podem afetar profundamente as dinâmicas do relacionamento, resultando em mal-entendidos e conflitos, especialmente quando se trata de questões importantes, como casamento, filhos, papéis de gênero e diferenças na forma de expressar afetos. Este texto explora alguns dos principais desafios e caminhos para superar as barreiras em um relacionamento intercultural, com base no conhecimento da Psicologia Intercultural e nas experiências atendendo em psicoterapia pessoas que enfrentam essas questões.
Clareza do que os uniu
É importante ter clareza da razão pela qual você iniciou o relacionamento em primeiro lugar, especialmente quando enfrentam dificuldades. Pergunte a si mesmo o que atraiu você a essa pessoa e por que você decidiu se relacionar com ela. É comum que os relacionamentos, interculturais ou não, enfrentem momentos de crise, e buscar a razão original pode trazer o sentido e o brilho que foram perdidos.
Qual o nosso propósito juntos/as?
Além de lembrar a razão pela qual iniciaram o relacionamento, é importante atualizar essas razões levando em consideração as situações de vida atuais de cada um. Conversar abertamente e com clareza sobre projetos de vida pode ajudar a ver se estão alinhados e se ambos querem caminhar na mesma direção. Saber o que cada um espera do futuro e do relacionamento pode ajudar a evitar surpresas desagradáveis no futuro e manter o relacionamento forte e duradouro. Lembre-se que não existe uma fórmula mágica para um relacionamento intercultural, mas sempre há espaço para diálogo, reflexão e aprendizado mútuo.
Misturas, comprometimento e flexibilidade
O relacionamento intercultural é uma mistura de culturas, por isso é importante evitar a expectativa de que seu parceiro irá se adaptar completamente à sua maneira de viver. Conversar é fundamental para que ambos possam entender os óculos culturais que cada um vê o mundo e encontrar um equilíbrio que permita respeitar as individualidades e os valores de cada um. Não é uma questão de uma pessoa ceder completamente para a outra, mas sim de encontrar soluções que funcionem para ambos. Comprometimento, respeito, flexibilidade e paciência são chaves importantes para construir um relacionamento intercultural saudável e satisfatório. Lembre-se também de que essa adaptação é um processo contínuo e que ambos precisam se esforçar constantemente para se adaptar e aprender um com o outro.
Empatia
Adaptar-se a um novo ambiente pode ser uma experiência difícil para uma das pessoas que muda para o país da outra, podendo levar a sentimentos de isolamento, solidão e estresse, que podem afetar negativamente o relacionamento. O processo de adaptação leva tempo e pode ser desafiador manter um relacionamento saudável durante esse período. É importante que o/a parceiro/a seja uma fonte confiável de apoio e conforto, mas também é fundamental buscar suporte na comunidade local, amizades e familiares. Além disso, o/a parceiro/a local ou mais adaptado/a deve ter paciência e exercitar a empatia com a outra pessoa que está passando por um estresse de adaptação, estar consciente de que a outra pessoa está enfrentando muitos desafios juntos para poder estar ali, mesmo que não saiba como é estar na pele dela.
Esteja realmente aberta/o para conhecer a outra cultura
Valores profundamente enraizados podem gerar conflitos, especialmente em torno de questões como religião, política e moralidade. É fundamental abordar essas questões procurando entender as razões por trás dos valores do/a parceiro/a. Além disso, diferenças no estilo de vida, como alimentação, roupas, lazer e hábitos cotidianos, podem ser muito distintas entre as culturas, gerando desentendimentos se os/as parceiros/as tiverem dificuldade em entender as razões por trás de certos comportamentos.
A viagem e o intercâmbio cultural podem ser uma maneira de se aproximar do/a companheiro/a e de conhecer sua cultura. Isso pode ajudá-la/o a entender melhor suas perspectivas e comportamentos. Se você me diz que não está interessada/o na cultura da outra pessoa, é importante refletir sobre essa fala e se perguntar – Por que eu estou vivendo com essa pessoa? O esforço para sair e experimentar a vida na perspectiva da outra pessoa mostra que você se importa e quer conhecê-la no seu contexto de origem. Ambas/os devem estar dispostas/os a fazer esse esforço de aproximação. Também é importante cuidar as generalizações. Não assuma que ela age de uma determinada maneira apenas por causa da cultura dela. Cada pessoa é única e tem sua própria maneira de ver o mundo.
Uma comunicação que funcione
Muitas vezes, é difícil para uma pessoa expressar seus sentimentos e pensamentos com a mesma profundidade e clareza em uma língua que não é a sua língua nativa. Isso pode levar a mal-entendidos e trazer a sensação de não poder ser compreendida/o, de frustração e desconexão emocional. É importante estar ciente das diferenças culturais entre vocês e como elas podem afetar a comunicação, para além da barreira da língua. Isso pode incluir diferenças na linguagem corporal, expressões faciais, tom de voz, e na maneira de expressar afetos. A cultura também pode refletir no estilo de comunicação, algumas pessoas podem ser mais diretas que outras, por exemplo. Tente entender como vocês preferem se comunicar e tentem adaptar o estilo.
Do ponto de vista psicológico, a barreira linguística em um relacionamento intercultural pode levar a uma sensação de perda de identidade e de autoestima. Quando não conseguimos nos expressar de maneira eficaz, podemos nos sentir desvalorizados e incompreendidos. Nesse sentido, quanto mais vocês conhecerem a cultura uma da outra, melhor serão capazes de se comunicar. Faça perguntas, leia livros ou artigos sobre a cultura dela, ou participe de eventos culturais. Se você não tem certeza se entendeu corretamente algo que a pessoa disse, peça esclarecimentos. Não tenha medo de pedir para que ela repita ou reformule o que disse, ou para esclarecer o que ela quis dizer. Outra dica é tentar usar exemplos ou analogias que sejam relevantes para a cultura ou experiência da outra pessoa. Às vezes, é mais fácil entender algo quando você pode relacioná-lo a algo que já sabe.
Não existe uma receita mágica para fazer um relacionamento intercultural funcionar, o que funciona para um casal pode não funcionar para outro. Este texto explorou alguns dos principais desafios enfrentados em um relacionamento intercultural, desde as diferenças nos valores pessoais e estilo de vida até as barreiras linguísticas. No entanto, a empatia, a disposição e o interesse genuíno em conhecer a cultura da/o parceiro/a, a clareza do que os uniu como casal e a comunicação aberta sobre o futuro podem ajudar a superar essas barreiras. Além disso, a psicoterapia pode ser uma ferramenta valiosa para lidar com as diferenças culturais e construir um relacionamento que faça sentido para ambos/as, permitindo que sejam companheiros/as nessa jornada de vida única.
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