A autoestima é um conceito que se refere à avaliação que fazemos de nós mesmos, considerando nossas habilidades, capacidades, limitações e valor pessoal. No contexto de vida migrante, a autoestima pode se fragilizar devido à necessidade de aprendizado constante e a adaptação a novas culturas, o que pode gerar sentimentos de inseguranças, cansaço, frustração e decepção. Além disso, a síndrome do vira-lata pode fazer com que nós brasileiras/os tenhamos dificuldade em valorizar o que temos de bom. Neste texto, abordaremos a importância da autoestima cultural, explicando a síndrome do vira-lata e como a baixa autoestima brasileira pode nos afetar. Além disso, serão apresentados três fatores que influenciam a autoestima relacionados às nossas atitudes, e a prática da autovalidação, que pode ajudar a reconhecer e valorizar nossas habilidades, talentos e contribuições no exterior.
Complexo do vira-lata: a autoestima cultural
É termo utilizado para descrever a tendência que temos em desvalorizar nossa própria cultura, enquanto apreciamos o que vem de fora. A expressão surgiu com o escritor Nelson Rodrigues após a derrota da seleção brasileira na Copa de 1950. Mas a origem do complexo pode ser atribuída a vários fatores históricos, sociais e culturais. Como a colonização, a desigualdade social, a falta de acesso a produtos mais caros, o racismo, a falta de investimento em educação e cultura que valorizasse a cultura e história brasileira etc.
A definição do que é ser brasileira/o também está ligado a nossa autoestima. Se achar menos que uma pessoa estrangeira pode ser muito prejudicial para quem mora no exterior e reforçar a baixa autoestima pessoal. Podemos nos considerar inferiores tanto por características pessoais quanto pela nacionalidade, a ponto de deixar de buscar pelos nossos direitos, se considerar menos qualificadas/os para uma vaga de emprego ou ter vergonha do nosso sotaque, por exemplo.
Morar fora também pode ser uma oportunidade para ver o Brasil com outros olhos e valorizá-lo. Ao viver em outro país, é comum que sejam evidenciadas as diferenças culturais e as particularidades que tornam o Brasil único e especial. A saudade da comida, das músicas, dos costumes e dos relacionamentos pode despertar uma valorização ainda maior da cultura brasileira, além de aumentar nosso senso de identidade e pertencimento às nossas origens. Além disso, ao se deparar com estereótipos e visões distorcidas sobre o Brasil em outros países, é possível perceber a necessidade de se reconhecer e valorizar a riqueza cultural e histórica brasileira. Podemos questionar nosso complexo de vira-lata aprofundando o entendimento sobre nossas próprias raízes e enriquecer a nossa visão de mundo.
É certo que a nossa presença em outros países pode enriquecer as comunidades locais com novas perspectivas, hábitos e ideias, além de contribuir com a nossa bagagem cultural e pessoal. No ambiente de trabalho e nas amizades interculturais, podemos promover ações e atitudes que enriquecem o convívio. Na minha experiência, ao acompanhar brasileiras/os migrantes em terapia, é comum ouvir um reconhecimento sobre a qualidade do estudo e da formação profissional brasileira, assim como da diversidade de experiência que trazemos. Ser brasileira/o pode ser um “fardo” e também o nosso ponto forte. A nossa presença em outros países pode ser uma oportunidade para aprender a compartilhar, e ao fazê-lo, enriquecemos a nós mesmos e às relações que estabelecemos.
3 fatores que influenciam a autoestima pessoal
Ter uma boa autoestima é uma questão muito mais ampla do que simplesmente estar “bem” consigo mesma, com sua aparência física e se priorizar. Embora esses fatores possam desempenhar um papel importante na forma como nos vemos, há outros fatores que influenciam nossa autoestima e que estão relacionados às nossas atitudes e comportamentos. A seguir, confira alguns deles:
- Como você se percebe: Qual é a sua opinião sobre si mesmo(a)? Qual é o sentimento que você tem em ser brasileira/o? Você percebe o quao resiliente você é? Você reconhece suas potencialidades e fragilidades, e como lida com elas? Ter uma boa autoestima não significa que você é “zero defeitos” e perfeita/o. É importante aceitar o que não pode ser mudado e investir onde a mudança é possível.
- Limites: Ter clareza do que você gosta, permite e aceita ou não e poder deixar isso claro para outras pessoas. O quanto você sabe identificar e impor os próprios limites influencia como você se sente sobre si mesma/o e sobre as suas atitudes com as pessoas a sua volta. Afinal, saber dizer não ou se posicionar no que é importante para você é um exercício de autorespeito e uma forma de se apreciar.
- Competência: Sentir-se capaz de realizar as tarefas que você se propõe. Na prática isso significa o quanto você consegue resolver “problemas”, sejam eles individuais ou coletivos. É a sensação de que você é capaz de cumprir as “missões” que se propõe. Você já notou como se sente quando consegue finalizar uma tarefa ou ajudar alguém a realizar algo?
Praticando a autovalidação
Como dito antes, podemos facilmente cair na armadilha e valorizar as conquistas e qualidades das outras pessoas e invalidar as nossas. Reconhecê-las, por menor que elas sejam, é tão importante quanto olhar para aquilo que nós não alcançamos ou não fizemos bem. Exploramos alternativas para 3 pensamentos comuns que qualquer migrante pode ter praticando autovalidação.
1. “Isso todo mundo faz”: Se você consegue fazer algo, não há razões para tirar o mérito disso. Saber executar essa tarefa é uma competência sua.
2. “Tem gente que faz melhor”: Você pode se inspirar nas outras pessoas, mas comparações nem sempre são saudáveis. Reconheça as suas qualidades e como você poderia alcançar a sua melhor versão na execução dessa tarefa.
3. ”Poderia ter ficado melhor”: Reconheça os aspectos positivos e negativos do que você faz, mas também reconheça as suas vitórias.
Autoestima é um aspecto fundamental para o bem-estar emocional e o sucesso pessoal e profissional, especialmente para brasileiras/os que vivem no exterior. Reconhecer e valorizar nossas habilidades, talentos e contribuições é essencial para lidar com a síndrome do vira-lata e outras influências que afetam a autoestima. Além disso, a prática de autovalidação pode ajudar a construir uma percepção sobre nós mais saudável. A psicoterapia para brasileiras/os no exterior pode ser uma ferramenta valiosa para o fortalecimento da autoestima e, assim, construir uma vida mais plena e satisfatória no exterior.
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Um abraço das Psis Luiza Sbrissa e Daniele Dalla Porta